sexta-feira, 22 de março de 2013

[Continuação de "Cafajeste do Bem"]


Abriu os olhos devagarzinho, quase como quem abre uma cortina á procura do sol. O silencio na casa era tão grande que, entre a respiração dele, ela escutava a torneira da cozinha pingando. As pernas ainda bambas caminhavam por entre as roupas no chão do quarto, sentou ali mesmo, perto da porta que dava pra varanda.

- Eu sempre tive juízo, talvez esse tenha sido o meu problema. Eu deveria me permitir mais, fazer o que as pessoas dizem ser errado, não sempre, mas pelo menos quando a mesmice batesse na minha porta. Ir além foi divertido. Esse vazio que eu sinto aqui dentro, talvez, seja resultado dessa minha necessidade de me permitir, é isso mesmo, eu tenho que me permitir em alguma coisa, em alguém.  Ser tomada pelo corpo, pela pele, me deixar levar até onde eu possa sentir a alma gemer e os ossos rangerem de tanta sintonia com alguém. Tanto pudor para quê? Se o meu corpo implora por um sentimento desvairado, e já dá sinais que está no ápice. Vieram me dizer essa semana que eu tenho um astral lascivo e prece nos lábios. Uma prece que invoca o pecado...

- Acho que tudo na vida depende da dose: a dose de amor que você recebe, a dose de carinho que você dá. É tudo a mesma coisa, mas é preciso saber dosar. Nem mais, nem mesmo. Se você exagerar na dose no outro dia você acorda de ressaca, se você pegar muito leve vai ficar com o gostinho de quero mais. Tudo na vida segue essa logica. Besta é quem ainda não percebeu.